Em Janeiro deste ano, residentes da zona da Ramalha, receberam nas suas caixas de correio o documento abaixo inserido, oriundo de uma empresa (Certitecna) que se diz mandatada para fazer "Vistorias cautelares dos edifícios confinantes com as obras do metro de superfície Cacilhas/Monte de Caparica/Corroios", incluindo tomada de fotografias no interior das habitações.
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Houve moradores que não permitiram a entrada de estranhos no interior das suas habitações para esse efeito e pelo menos dois deles, escreveram cartas dirigidas a essa empresa dando conta da sua posição em relação ao pretendido.
Publica-se o teor de uma delas e da outra, o texto digitalizado:
- Carta 1
Para:
Certitecna,
Engenheiros Consultores, S. A.
Rua de Moçambique, 7
1170-242 Lisboa
Vossa Ref. N.º 0001/2008 de 2008/01/04
Almada, de Janeiro de 2008
Assunto: Vistorias cautelares dos edifícios confinantes com as obras do Metro de Superfície. Cacilhas/Monte de Caparica/Corroios.
Exmos. Senhores,
Acuso a recepção da carta circular de V. Exas. acima referenciada, sobre o assunto em epígrafe, a qual mereceu a minha melhor atenção.
Atendendo ao teor da mesma e tal como V. Exas. confirmam, das obras de implementação da linha ferroviária, em via dupla, do Metro de Superfície e da posterior circulação das composições ferroviárias, poderão resultar consequências nefastas para a estrutura dos edifícios confinantes com o espaço canal e dos fogos que deles fazem parte, daí pretenderem vistoriar a minha residência para a recolha de “fotografias das anomalias existentes”.
Lamentavelmente constato que V. Exas., sem possuírem qualquer tipo de informação sobre os edifícios em causa e muito menos sobre cada uma das fracções que deles fazem parte, pretendem “documentar” não as eventuais anomalias, mas as anomalias existentes, isto é, no vosso douto entender, as anomalias já existem, apenas têm de ser documentadas, para, deste modo, poderem prevenir qualquer reclamação posterior que, face às “provas” agora recolhidas, serão sempre classificadas como improcedentes pela entidade reclamada, o Concessionário.
Estranha maneira de agir, quer da entidade que adjudicou a V. Exas. estes trabalhos, certamente o Concessionário a que me referi anteriormente, quer dos vossos serviços quando se propõem executá-lo com estes pressupostos iniciais…
Ouso perguntar:
As “vistorias cautelares” são para acautelar os interesses de quem?
Dos moradores que possam vir a ser realmente afectados pelas obras e pela posterior circulação das composições ferroviárias, ou do Concessionário, que, com este procedimento cautelar desde já se está a documentar com “provas” que lhe permitirão descartar mais tarde quaisquer eventuais responsabilidades que lhe possam vir a ser imputadas?
Como V. Exas., ao que suponho, não estão legalmente mandatados para poderem devassar, quer a propriedade privada, quer o meu ambiente familiar, cumpre-me informar que não autorizo que visitem ou tirem qualquer fotografia da minha residência destinada aos fins cautelares daqueles que, logo à partida, não pretendem assumir quaisquer responsabilidades pelos seus irresponsáveis actos, isto é, estabelecer uma linha de caminho de ferro em via dupla, uma faixa de circulação rodoviária e uma faixa de acesso a estacionamentos, numa rua com pouco mais de vinte metros de largura.
Com os mesmos objectivos cautelares, eu próprio me encarregarei de documentar fotograficamente o estado actual do meu apartamento, novo e sem qualquer defeito, porque totalmente reconstruído há poucos meses, pois tais documentos terão o mesmo valor legal daqueles que V. Exas. agora se propunham recolher.
Com efeito, pese embora as alegadas e vastas competências da vossa empresa (?), não se dignaram sequer informar-me, a mim ou a qualquer outro cidadão afectado por este desastroso empreendimento, qual a norma ou o tipo de relatório que suportaria os registos dos resultados da vistoria cautelar que se propuseram realizar… (medição do ruído, qualidade do ar, etc., etc.).
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Para documentos, relatórios, fotografias e despachos de faz de conta, já chegaram muitos outros de entre os quais saliento pela sua importância ou mediocridade o despacho da Secretária de Estado dos Transportes, Eng.ª Ana Paula Vitorino, que concordou com a Solução 5, apresentada pelos moradores, isto é, o Despacho nº 06,07/05/SET, de 22 de Julho 2005, da Secretária de Estado dos Transportes, que fixou o novo traçado do MST no Triângulo da Ramalha, conforme exigência da CMA ao Governo e que foi prontamente desautorizado pela presidente da CMA, D. Maria Emília e pelo partido da dita maioria que a suporta.
Com os melhores cumprimentos
Carta expedida por email para:
· geral@certitecna.pt
·tecnico@certitecna.pt
- Carta 2 (digitalizada)
8 comentários:
Curioso!
Excelente trabalho de transparência e divulgação.
Os moradores de Almada deveriam ter tomado a mesma atitude com estes fulanos para que eles aprendam a respeitar o cidadão e seus direitos.
Sou uma moradora da RLM que também não autorizou a vestoria pedida pela referida empresa.
As coisas não se fazem como essa empresa fez. Primeiro, manda uma carta sem remetente nenhum que vinha aberta e assim foi colocada nas nossas caixas de correio.
Que prova tem a referida empresa que os moradores foram avisados de tal vistoria? Teriam os moradores que perder um dia de trabalho para estar alguém em casa à espera que os técnicos se deslocassem às suas habitações.
Não se entra assim sem mais nem menos na casa das pessoas. Pelo menos na minha não entram.
As consequências das obras do metro nos edifícios em causa, a seu tempo serão imputadas responsabilidades à concessionária, caso haja motivo para tal.
Realmente a carta enviada vinha sem remetente e (estranhamente) aberta!!! Que validade tem esta carta? NENHUMA!!!!
Já terão ouvido falar de cartas registadas?
Como sabemos se a empresa Certitecna foi realmente "contratada" para fazer a peritagem? uma carta aberta dá quaisquer garantias?
Uma empresa manda uma carta a dizer que vai "entrar" em casa para fazer fotos e relatar anomalias. Isso é que era bom!! em minha casa não entrou!!!
HAJA RESPEITO E PACIÊNCIA!!!!
Tem sido esse o nosso propósito. Sermos transparentes na defesa dos nossos legítimos direitos de cidadãos e moradores, divulgando todos os documentos que temos sobre o assunto e não nos deixarmos subjugar ao autoritarismo saloio destes autarcas, que acham que cidadão exemplar é aquele que acata resignado,sem pensar, as ordens deles.
jorge rosa
É isso que faz falta. É preciso que todos nós pensemos que somos gente, que devemos defender os nossos direitos enquanto individuos e membros da sociedade,sentir que também temos uma consciência social comunitária.
Devemos repelir todo e qualquer autoritarismo, por mais disfarçado que apareça de democracia.
moradora
Bom trabalho e obrigado por ter participado e divulgado sua decisão.
É fundamental reagirmos a estes insultos aos moradores.
anónimo
Essa gente provavelmente não sabe o que é respeitar o vizinho do lado, quanto mais moradores da Ramalha que recusam o comboio/MST, o "futuro", de presente da presidente da Cãmara, que só faz o melhor por Almada.
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